"Que sejam infinitas as lembranças dos momentos vividos, dos sorrisos vistos e das paixões sentidas. Finita seja a dor, a angústia e o medo. Infinitos sejam os sonhos, a fé e a coragem. Que o amor seja infinitamente maior do que qualquer fruto de nossa finita-mente."

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chuva


    A chuva cai lá fora e hoje me trouxe a solidão. Há tanto tempo não a vejo, quase esqueci como é que ela se comporta. Ouço cada pingo cair e se chocar contra o chão, feito a água do chuveiro quente que me fez pensar em uma vida inteira hoje. Há dias venho esperando a inspiração, mesmo com vontade de escrever, esperei até que as palavras saíssem assim, sem pressa. Nunca gostei de dias chuvosos, até que percebi que eles se tornam lindos com cobertores, abraços, beijos e uma bebida quente. Caso contrário, me perco numa solidão chata que faz pensar em todos os pontos errados da vida, do dia a dia. Então me diz, por que você anda assim tão distante? Parece que vivemos em órbitas diferentes, a sua sempre dois passos a frente. De longe tão fria e escura, mas quando vista de perto é quente, quase tão quente quanto um dia de verão, e tão segura! Não entendo essa visão, me faz sentir confusa e perdida. Eu nunca sei qual lado verei, o quente ou o frio. Indiferente, talvez seja o de hoje. Prefiro quando diz que sente minha falta na sua cama, pra abraçar e dormir mais tranquilo. Mas, eu me pergunto, quase que o tempo todo, qual será o seu lado que vai prevalecer daqui um dia, um mês, um ano - eu nunca sei o que esperar. E fico esperando você me mostrar qual desses lados será o da vez, parece às vezes que você tem medo de mostrar aquele lado bom que tanto gosto, mas por que você não me diz? Não consigo te decifrar, você é quase como um código impossível, ou muito difícil para meu intelecto. E isso me frustra às vezes, mas eu sei, eu sei que a culpa não é sua. É que sinto falta dos dias quentes quase todos os dias, e quando eles chegam percebo o quanto o brilho do seu olhar é perfeito. Me amolece as pernas, braços, mãos, pés - e meu coração que já é meio mole também - me faz doce feito o seu bolo de fubá com paçoca e leite condensado. 

    Mexendo aqui e revirando ali, encontrei seu antigo blog. Sempre me sinto péssima quando leio o texto que fala sobre mim. Naquele tempo éramos tão diferentes, amadurecemos tanto e olha onde estamos hoje. Parece que a história do ensino médio teve um final feliz, um final onde começou outra história. Dessa vez é a história da vida mesmo e gostaria tanto de saber se vai ter um final feliz também. Aliás, nunca gostei de finais tristes, seja um livro ou um filme ou qualquer outro tipo de história, se o final for triste já não me agrada mais. Na verdade, não gosto de finais. Quero dizer, quando gosto de algo quero que não tenha fim. Porém, aprendi que todo final também é um novo começo. E começar algo é sempre um novo frio na barriga, uma nova sensação. 

    A saudade de certas coisas do passado dá vontade de voltar no tempo. Voltar no tempo e mudar certos erros. Mas se foram dos meus erros que me tornei o que sou hoje, será que valeria a pena mudar o que já passou? É como fazer uma daquelas pirâmides de cartas, se mudar uma de lugar todo o resto estará perdido. Daí resolvo me desprender do que passou, mas de nada adianta, porquê me prendo ao que virá. Será que não consigo viver um dia de cada vez sem que meus pensamentos me encham de perguntas sem respostas? 

    Enquanto a água tocava minha pele, a brisa gelada entrava pela janela do banheiro me fazendo arrepiar e o barulho da chuva constante ecoava até meus ouvidos, eu viajava de lá pra cá presa a um turbilhão de sentimentos e pensamentos um tanto quanto irritantes. Fechei o chuveiro e deixei tudo o que me incomodava escorrer ralo adentro. Entretanto algo me fazia ficar atenta ao barulho da chuva, como se ela quisesse me dizer alguma coisa. Como se me alertasse de que há algo errado, vai entender a intuição, bobagem não é?

    Noite passada, mais uma vez, tive sonhos turbulentos. O que será que isso quer dizer? A pergunta que não se cala, que me intriga e me desconcerta. Viver no meio de dúvidas e incertezas anda me deixando fora de órbita. E por falar em órbita, porque é que você não percebe que ando precisando da confirmação que eu não posso dar a mim? Vem cá, senta aqui e me conta porquê é que você se faz assim? De difícil, talvez. Não sou boba não meu rapaz, meu coração precisa do seu, mas não são um só. Eu ainda sou eu, aqui sozinha escrevendo o que me vem à mente, e você ainda é você, ai na sua cama num sono profundo e quente debaixo dos edredons que você coloca até cobrir a pontinha do meu nariz. Se for problema, diz. Se for bobeira minha, ri. Mas se for enjoo de tanto amor que insisto em querer de você e dar à você, me dê seu silêncio. Estou certa de que causará menos feridas. Mas, vem cá garoto, que insiste em ser o homem quase que o tempo todo, me conta sobre seu dia e sobre o que cada coisa te faz sentir. Eu que sou tão sentimental e você tão racional, de alguma forma no final das contas a gente se completa. 

    Eita, o nó na garganta chegou. É agora que a companheira da chuva me ataca, sólida e sempre dura demais pra mim. A solidão de uma noite do inverno que mal chegou, ela sim - mesmo que momentânea - me deixa assim, um rosto sem sorrir. E eu que gosto tanto de sorrir, que minha mãe diz que fui a criança mais feliz que já viu, sem sorrir sou apenas um rosto sem vida, daqueles que vejo pelas ruas da cidade e me dá tristeza se olhar nos olhos. Há muita solidão no mundo, a que é aceita sem reclamar por estar habituado a lidar com ela, a que traz tristeza ao que antes era companheirismo e alegria, e a minha, a que incomoda até que você chegue e me aperte em um abraço seguro contra qualquer coisa que me incomode. 

    Percebi que não quero terminar esse texto, é que depois de tantos dias preto e branco sem conseguir pôr pra fora tudo isso, me encontro em frenesi total. A sensação de escrever palavra por palavra sem ter vontade de parar, e contar e dizer e soltar e viver cada sentimento. Porém a chuva me pede descanso também, justamente quando aquela música começa a tocar, aquela que você me fez escutar um dia deitado ao meu lado, ela que me fez chorar como nunca antes quando um dia por um erro e tantos mais que me fizeram pensar que tinha te perdido pra sempre ou, sei lá por uma vida inteira. "E eu sempre tenho muito mais a dizer, mas o vento e o tempo vão encontrar algum motivo para explicar minhas escolhas. I will take everything in this life"

Nenhum comentário:

Postar um comentário